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Poemas para Brincar: Palavras que se transformam em brinquedos


“Se este mundo fosse meu,
eu fazia tantas mudanças
que ele seria um paraíso
de bichos, plantas e crianças”
Poucos professores se preocupam realmente em transformar a sala de aula num grande espaço lúdico, de aprendizado prazeroso, de crescimento generoso e salutar. Parecem preferir a imagem da prisão com as portas fechadas, os alunos acorrentados às carteiras e onde as pedras para quebrar foram transformadas em infindáveis e pouco significativas atividades.
As paredes em cores neutras e as persianas ou cortinas sonsas que procuram evitar que a luz do sol entre no ambiente complementam essa visão de pesadelo que muitas crianças têm em relação às escolas que freqüentam.
Para piorar ainda mais as coisas há professores que teimam em “castigar” seus alunos dando a eles leituras que distanciam os alunos das delícias e sabores próprios das letras. Os aspectos lúdicos das leituras se perdem e também as possibilidades de que desse fortuito e necessário encontro se consolide como uma relação duradoura e fiel.
Ler histórias, contos, fábulas e poesias para as crianças é o primeiro e principal passo rumo ao estabelecimento desse grande amor que deve existir entre as pessoas e os livros. Como diz o autor José Paulo Paes, que nos brindou com essa agradável obra “Poemas para Brincar”, é necessário “brincar com as palavras como se brinca com bola, papagaio e pião”...

“Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio e pião”

Para brincar com as palavras, as crianças também tem que se divertir com as imagens, se encantar com as rimas, se deslumbrar com as histórias e, depois de tudo isso se sentirem motivadas a conversar sobre o que leram ou ouviram, escrever suas próprias rimas e contos, desenhar painéis que demonstrem suas sensações e versões das poesias degustadas.
José Paulo Paes se propôs a isso e deixou bem claro seu recado sobre a necessidade da escola se tornar mais interessante ou divertida quando colocou em seu “dicionário” constante no livro o verbete “aulas” acompanhado da seguinte definição:- “período de interrupção das férias”.
Por que se a escola fosse mais prazerosa e instigante as crianças não iam se importar de acordar cedo para ir para lá. Se suas obrigações não fossem assim chamadas mas identificadas como momentos de crescimento e aprendizagem lúdica ou como saber brincando e se divertindo o rendimento seria necessariamente outro...
As palavras são brinquedos que não morrem com o passar dos anos, que não caem de moda, que continuam a nos desafiar em diferentes anos e momentos de nossas vidas. São as palavras e é a conjunção das mesmas que nos permitem conquistar o amor de nossas vidas, conseguir o primeiro emprego, comprar o carro dos nossos sonhos ou ainda fazer aquela viagem que sempre pretendemos fazer...

“Um homem
que se preocupava demais
com coisas sem importância
acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas.
Um amigo lhe deu então uma idéia
de usar as minhocas
numa pescaria
para se distrair das preocupações”

Quanto mais nos afeiçoamos com as palavras, mais fácil a vida parece ficar para nós. Infelizmente as pessoas ainda não se deram conta disso pois em sua escolarização foram submetidos a caminhos que invariavelmente os colocavam em choque e conflito com as letras ao invés de estabelecer duradouros armistícios que redundassem em tratados de paz e amizade eternos...
Quem não foi submetido a uma daquelas tenebrosas leituras obrigatórias que pouco ou nada legaram de proveitoso e que, de quebra ainda significaram avaliações monótonas e nada significativas? Se a leitura não está sintonizada com o universo em que vivem os leitores é pouco provável que ela frutifique, que gere resultados ou ainda que promova o conhecimento.
O mais provável é que a cabeça da gente acabe ficando cheia de minhocas... E, como disse um amigo do José Paulo, o melhor a fazer com todas essas minhocas talvez seja mesmo transformá-las em iscas e ir pescar para relaxar e esquecer os problemas. Acho que as leituras chatas e pouco interessantes que fiz por obrigação acabaram se transformando em minhocas na minha cabeça e estão a todo o momento adubando esse meu “solo” de idéias e planos de pescaria...

“Se você for detetive,
faça um bom trabalho:
me encontre o dentista
que arrancou o dente do alho
e a vassoura sabida
que deixou a louca varrida”

Leia você também professor com mais prazer, como a degustar o melhor dos vinhos ou a provar dos manjares mais sofisticados e deliciosos de que se tem notícia. Para mudar a forma como as crianças se relacionam com a leitura devemos também repensar a nossa relação com os livros e com as letras.
Costumo dizer em palestras e oficinas que filmes, internet e toda a tecnologia que vier a ser inventada é caminho sem volta para a humanidade e também para a educação. Apesar disso, reitero em todos os encontros que realizo com educadores que em nenhum momento, presente ou futuro, o livro deixará de ser o maior de todos os aliados do conhecimento e da cultura.
Temos que apreciar a textura do papel, gostar de virar as páginas, sentir satisfação em encontrar idéias novas, rir e se divertir com a prosa de autores clássicos e contemporâneos para poder difundir com verdade e paixão a leitura entre as crianças e os adolescentes. Sou um apaixonado pelos livros e pelo conhecimento desde que me conheço por gente. Comecei a ler com revistas em quadrinhos e logo passei para os contos, fábulas, poesias e histórias para crianças.
Penso que não há legado maior para as futuras gerações do que o estímulo à leitura e a busca do conhecimento. Faço isso em minha casa contando com o integral apoio de minha companheira. Colhemos os frutos em nossos filhos, que tem uma relação de proximidade e amor pelos livros como a que temos.
José Paulo Paes contribui para que a leitura seja vista como aventura, divertimento e lazer entre as crianças com “Poemas para Brincar”. As ilustrações de Luiz Maia dão mais elegância e graça a essa grande brincadeira ao mesmo tempo em que provocam as crianças a pensar e repensar a relação entre texto e imagem.
O dicionário apresentado ao final é um grande deleite. Estimula a criatividade ao mesmo tempo em que introduz os pequenos ao próprio conceito de dicionário. Prolonga a diversão ao indiretamente propor que as crianças continuem a escrever os verbetes engraçados e originais desse livro e também de suas vidas.
É para ler e reler com as crianças. É para ler e reler se sentindo um pouco mais criança...

Por João Luís de Almeida Machado

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